sexta-feira, 26 de outubro de 2012

O Futurismo


Umberto Boccione. Formas Únicas na Continuidade do Espaço,
homem a Caminhar,1913. Escultura em bronze.
 Museu de Arte Contemporânea, São Paulo.
Futurismo foi o primeiro movimento artístico realmente de vanguarda, partindo de uma idéia geral radical de subversão de todas as tradições, valores e instituições do seu tempo e exaltação do dinamismo, da eletricidade e da velocidade. Fundamentalmente ideológica, encontrou sua expressão artística com dificuldade, tendo sido subestimada em sua influência e importância. Mas suas idéias permearam muitos dos movimentos posteriores, pela ousada experimentação estilística e técnica: o vorticismo, algumas formas de expressionismo e mesmo o cubismo, e a arquitetura, a escultura, a tipografia e pintura da Alemanha, França, Holanda e, principalmente, da Rússia. No início do século XX, o mundo assistia à segunda revolução industrial, covivendo cotidianamente com maquinários tecnológicos, a iluminação elétrica e, por fim, com o automóvel. A Europa fervia com as transformações artísticas anteriores dos impressionistas e diversos pós-impressionistas. Apesar de toda a tradição cultural de Itália, de seu passado clássico e renascentista, os italianos não participaram ou contribuíram para essa efervescência, apenas tomando conhecimento de cada nova inovação. Sob supervisão do poeta Filippo Tommaso Marinetti (1876-1944), outros três pintores, Umberto Boccioni (1882-1916), Luigi Russolo (1885-1947) e Carlo Carrá (1881-1966) redigiram e Boccioni declamou no Teatro Chiarella, em Turim, a 8 de março de 1910, o Manifesto dos pintores futuristas, denunciando as vinculações das artes com o passado e exigindo uma nova arte para o mundo. "Que a ciência de hoje negue o seu passado, isto corresponde às necessidades materiais do nosso tempo. Do mesmo modo, a arte, negando o seu passado, deve corresponder às necessidades intelectuais do nosso tempo." – Manifesto técnico da pintura futurista, Boccioni, 1919. 



Giácomo Balla.Lâmpada,1909. Óleo sobre tela.
174.7 x 114.7 cm. Museu de Arte Moderna, Nova Iorque.
Apesar da ousadia de pretensão conceituais, a pintura dos futuristas era comedida e sóbria, experimetando a percepção da luminosidade elétrica através o divisionismo cromático dos impressionistas mas sem qualquer inovação significativa. Juntou-se a eles os pintores Gino Severini (1883-1965) e Giácomo Balla (1871-1958). Boccioni intentou buscar as formas impermanentes na pintura, em semelhança às luzes dos holofotes, dos gases coloridos. Paralelamente, os temas urbanos e de violência (brigas, funerais, movimentos, etc.) eram permanentes. Essa violência e gosto pelo escândalo permeava também suas vidas pessoais, como na maneira como as críticas de Ardengo Soffici às telas futuristas foram respondidas com agressão física. Em 1911, por influência de Severini, que chegou de um período passado em Paris, organizou-se uma excursão de 15 dias para conhecer uma maneira nova de pintar que ocorria nessa cidade, o cubismo. Severini levou Boccioni, Russolo e Carrá aos ateliês de pintores, em Paris, entre os quais Picasso e Braque, bem como a diversas galerias. Voltando a Milão, acrescentaram a fragmentação formal aprendida em Paris aos seus métodos anteriores, repintaram seus quadros na nova estética e organizaram uma exposição com 35 telas na Galeria Bernheim-Jeunne, em Paris, com a designação de pintura futurista, em 5 de fevereiro de 1912. A exposição percorreu a Europa (Londres, Berlim, Bruxelas, Amsterdam, Haia, Munique, Viena, Budapeste, Frankfurt, Breslau, Zurique e Dresden), sempre acompanhada de publicações e conferências de grande sucesso. O ideário futurista se desdobrou em manifestações nos mais variados campos, no feminismo, na política, na literatura, na música, etc., em diversos países. Em 1913, o crítico e poeta de vanguarda Guillaume Apollinaire escreveu o ensaio "A anti-tradição futurista", na revista Lacerba, sobre as idéias futuristas, as possibilidades de renovação do mundo cultural e uma lista de personalidades artísticas que incluía, além dos futuristas, Kandinsky, Delaunay, Matisse e Picasso. 



Umberto Boccioni. Ruídos da rua
 invadem a casa,1911. Óleo sobre tela.100x107.
Essa generalização é capciosa, pois havia uma grande variação de interesses entre os futuristas, e haviam muitas contradições internas. Se tinham em comum a audácia na proposição de uma nova arte que questionasse, não apenas valores tradicionais artísticos, mas as ambições estéticas da arte de vanguarda, a exaltação do crescimento tecnológico, a possibilidade de captar o dinamismo no estático, cada artista tinha, também, suas afinidades particulares, como a tendência à abstração de Balla, em oposição à maior proximidade com o cubismo de Carrá, Russolo explora símbolos de movimento e energia,em sua pintura, e desenvolveu máquinas geradoras de ruído, compondo, com elas, peças musicais. Boccioni inseriu força épica aos temas característicos do futurismo, cenas urbanas noturnas, cheias de luz elétrica, movimento mecânico, ruídos. Suas esculturas revolucionam com a inserção de materiais como o vidro, a madeira, o ferro, o couro, espelho, luz elétrica, etc., desejando libertá-la de uma sensação de asfixia. Em 1914, Antonio Sant'Elia, no Manifesto da arquitetura futurista propõe sua "Nova Cidade", uma metrópole construída com novos materiais e estruturas, visando a necessidade de transporte rápido das novas concentrações populacionais. É uma arquitetura elástica e leve, de concreto e ferro, vidro e têxteis, que rejeita a tradição da madeira, do tijolo e da pedra. Os ideais extremos do futurismo, como tantas outras possibilidades, foram atropelados pela Primeira Guerra Mundial, que ceifou algumas vidas e outras tantas expectativas, aproximando opositores e diluindo seu vigor. Mas essa ousadia marcou e se infiltrou nos mais diversos assuntos, posteriormente, modificando o modo de ver o mundo na modernidade.


(Fonte : http://artemodernafavufg.blogspot.com.br)




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